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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Diário de Bordo de Nova Iorque

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Essa viagem foi uma aventura só para mulheres. Pela primeira vez, viajamos eu, minha mãe e minha irmã. Agora conto os detalhes desses dez dias maravilhosos.


Era sábado de manhã
Acordei foi bem cedim,
Com os gritos dos cachorros
Ainda bem filhotim,
Me arrumei, tomei café
A viagem chegou, enfim.

Despedida no aeroporto
Cheio de beijo e emoção,
Eu e mãe lá embarcamos
Sara vai na contra-mão,
Mãe começa preocupada
- Abençoe esse avião!

Lá dentro do avião a
A fome já anuncia,
E chega um pão com patê
A fome não alivia,
Anunciam no microfone
Um doutor se carecia.

E lá vai mãe consultar
Uma idosa com gastrite,
Mas ela num é nem gastro
Se fosse uma priquitite,
E quem consulta a doutora
Que se queixa de cistite?

Pois logo ficou famosa
Todo mundo a cumprimentar, 
Agradecendo a ajuda
Por mais uma vida salvar,
Melhor se a Avianca
Desse um brinde pra voar.

E chegando em São Paulo
Mais espera, embromação,
Almoço treinando inglês
Café, zap e saguão,
Enquanto esperamos Sara
Escrevo mais um refrão.

E lá se vem a Neninha
Começa a gastar dinheiro,
Depois embarque, avião
Nós s'embora pro estrangeiro,
Da 1a classe passamos
Vamos lá pros derradeiros.

E o dia amanhece
Tamos em solo americano, 
Tudo meio atordoada
E ainda saímos ajudando,
Um mineiro desorientado
Que chegou e foi ficando.

Ônibus, tickets e metrô
Carregando as 3 malas,
Com fome procura o hotel
Inglês peleja e não fala,
Fomos logo bater perna
Comprar ao meno uma bala.

Café da manhã de rei
O sol forte e ardendo,
Um vento frio na cara
Só olhando o movimento,
Sentada na Time Square
Vendo o povo se batendo.

Mainha entra numa loja
Prova uns óculos e pendurou,
Quando tá na outra esquina
Se lembra que não pagou
Pensa logo "eu vou presa"
"A polícia me pegou".

Sara toda de pó 
A cara branca ficou,
Bota os óculos espelhado
Desses de aviador,
Pois não é que Michel Jackson
Ela agora encarnou.

Agora de volta ao hotel
Escrevo mais um tiquinho
Com os olhos quase fechando
Relaxo dois minutinhos
Mas não vou dormir em dólar
Saio já prum cafezinho.

Jantamos num restaurante
Eataly, sofisticado!
O prato era macarrão
Com camarão recheado,
Um vinho branco fresquinho
O sono vai ser ferroado.

Acordei foi bem cedinho
Para dar uma carreira
O Central Park verdinho
Me deu quase uma rasteira,
Me perdi pelo caminho
Melhor correr na esteira.

O dia batendo perna
Comprando tudo que via
E quando chegava o oco
Comia o que aparecia,
Grego, chinês ou Thai
spice não descia.

De noite bate o cansaço
No juízo uma agonia,
Na madrugada a dentro
O terral aparecia,
Um calor pegando fogo
Eu logo me descobria.

E o musical famoso
na Brodway anunciado,
CHICAGO, dança e canção
Fiquei um pouco frustado
Tudo preto sem emoção
Só quenga e abaitolado.

Agora comemos bem 
No Bubba um camarão,
Recheado com caranguejo
Arroz e um taco de pão,
A cerveja desceu gelada
Adormecendo as mãos.

Mas pense num medo grande
Foi a gente no metrô,
Entramos eu e Neninha
E mãe de fora ficou,
Bateu logo o desespero
Quando o trem apitou.

Descemos na outra estação
Começamos a rezar,
Esperando que mãe viesse
No outro que ia chegar,
E nada dela descer
- Vou voltar e procurar.

Quando olho mais na frente
Vejo mãe toda contente,
Conheceu uma senhora
Que a colocou na frente,
Conseguiu achar o caminho
E encontrar com a gente.

Museus , prédios e lojas
EStátua de liberdade,
Fizemos tudo num dia
Batemos toda cidade,
Alisamos até cunhão
Do touro da prosperidade.

Brasileiro tinha os montes
E de todo canto do mundo,
Doido, cabeludo e feio
Tinha um a cada segundo,
Eita povo esquisito, 
Misturado e tudo junto.

Mãe tenta falar inglês
Só sai um bom portunhol
E se falar enrolado?
Feito americanol?
Será que alguém entende?
Ou responde um "I'm sorry"

Ainda fomos num roothtop
Que um amigo indicara,
Não é que o segurança
Pediu documento de Sara
Achando que era uma teen
Olhando pra sua cara.

Ela toda contente
Não segurou alegria,
Mas é mesmo sem noção
Ou algo em troca queria,
Uma gorjeta gordinha
Só sonhando ganharia.

Foi tanta coisa bonita
Que eu vi nesse lugar,
Umas praças bem florida
Carruagem pra alugar,
Os prédios arranhando o céu
Furando as nuvens no ar.

Agora volto pra casa
Saudade dos meus meninos,
Vão ficar tão animados
Com os presentes tão finos,
Meu marido me esperando
Juazeiro é meu destino.

Viajar com mãe e Nena
Foi bom, mas eu me ferrei
Uma sênior e outra gestante
Tudo eu que carreguei
Pegava todas as filas
Mas mesmo assim eu amei.

Termino essa aventura
Querendo um dia voltar,
Com meu marido e meninos
Para eles aproveitar,
Essa terra tão bacana
Certeza que vão amar.






sábado, 7 de novembro de 2015

A outra história de Sansão

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Essa história aconteceu com o meu compadre Drayton, quando fazia sua residência médica na França.


Sei que você já ouviu
A história de Sansão,
Aquele que tinha força
Que matava até leão,
Que cortaram os cabelos
E morreu duma traição.

Agora o que não sabe
É do Sansão garimpeiro,
Nordestino do Maranhão
Saiu garimpando faceiro,
E de repente acorda
Nas bandas do estrangeiro.

Na época eu estudava
Na cidade de Paris,
Pode até parecer chique
Mas escapei por um triz,
O ganho era bem pouquim
Mas lá também fui feliz.

Eu era doutor de cabeça
Trabalhava num hospital,
Cuidando do convalescido
Do povo passando mal,
Era um morre e num morre
E eu buscando um sinal.

Um dia então gritaram
-Chama o doutor brasileiro!
Tinha chegado um senhor
Que falava estrangeiro,
Ninguém entendia nada
Que dizia o forasteiro.

Então cheguei bem pertim
Ele ainda atordoado,
Perguntou se ali era o céu
Se tinha a língua embolado,
Batido a cacholeta
Ou as canela esticado.

Eu disse: – Se acalme amigo
Você está bem vivinho
Aqui é Paris da França
DA torre Eiffel, dos vinhos
Nós vamos cuidar de você
Ficará bem zeradinho.

E eu já sem aguentar
De tanta curiosidade,
Como é que esse cristão
Veio parar nessa cidade,
Quem trouxe essa criatura
Quero saber a verdade.

Então ele começou
A explicar sua história,
-Seu doutor eu sou Sansão
Vou contar minha trajetória,
Sai garimpando no Pará
Buscando ouro e glória.

Passei mais de 30 dias
Sozinho no meio da mata,
Dormia ao longo do rio
Tomava banho em cascata,
Mas bateu uma franqueza
E desfaleci feito pata.

Não deu tempo eu gritar
Nem fazer uma oração,
Puxei o ultimo ar
Bem do fundo do pulmão,
E acordei aqui
Bem longe do Maranhão.

Agora quem foi que me trouxe?
Quem pôde me socorrer?
Disso eu não faço ideia
Queria  agradecer,
Também porque estou aqui?
Isso eu queria entender.

Fui então ao prontuário
Buscar mais informação,
Pra poder esclarecer
Essa história a Sansão,
E fiquei impressionado
Com a sorte do cidadão.

Sansão chegou na Guiana
Depois de atravessar o Pará
Caiu nas terras Francesas
Não tinha quem cuidasse lá,
Botaram num avião
Pra vir aqui se operar.

Então depois de explicar,
Sansão com muita emoção,
Pediu para eu ligar
Pra família no Maranhão,
Avisando que estava vivo
Que não dessem a extrema unção.

Então falei com a esposa
Que chorava e soluçava,
Tinha dado como morto
Mas agora sossegada,
Perguntou por Sansão filho
Se também comigo estava.

Sinto muito, mas Sansão filho
Eu não posso responder,
Sr. Sansão está muito bem
A Deus pode agradecer,
Pois outro milagre desse
Vai ser difícil de ver.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Corro, corri, correrei


Corro, corri, correrei




A juventude vai passando
O couro cai pendurado,
Procurando parar o tempo
Ou voltar o tempo passado,
O cabra decide  correr
Pra ficar todo sarado.

Calça uns tênis Reebok
Um short e uma regata,
Sai correndo e caminhando
Mais torto que uma pata,
E vai morrendo sem fôlego
O coração quase infarta.


“ Desse jeito não vai dar
Mas não posso desistir,
É todo mundo correndo
Certeza que vou conseguir,
Vou procurar na internet
Como devo prosseguir.”

E aí chega um amigo
Convida você pra correr,
Mas você não acompanha
Achando que vai morrer,
E o cara logo aconselha
Uma assessoria para você.

Agora o negócio é sério
Tudo muito profissional,
O cabra se sente um atleta
É treino com personal,
Alongamento e planilha
Massagem e funcional.

O indivíduo se empolga
Compra um cinto de hidratação,
Um relógio que marca o pace,
Sete blusas e um calção,
Pois tem que ser é dry fit
Pra não suar os “cunhão”.

E num é que já melhora
Aguenta a primeira légua,
Falta trocar os “pisantes”
Mede a pisada na régua
Pronada ou supinada
-Troca o tênis, seu égua!

Nos pés, ganhou uma mola
Sai então “afilotando”,
Corre que nem uma bala
No asfalto sai queimando,
De repente solta uns traque
Olhe as tripas funcionando.

Agora os 5 quilômetros
Faz ligeiro que nem sente,
Participa de uma prova
Chega logo bem na frente,
Bate um selfie com a medalha
Trincada no meio dos dentes.

O cabra sai se achando
Um atleta de elite,
“Quem faz cinco faz dez”
O amigo solta o palpite,
E você cai nessa onda
E descobre a canelite.

“Não amoleça rapaz
Você é um bom corredor,
Não tem esse no mundo
Que não corra sem uma dor,
Passe gelo, levante a perna
Depois tome um Anador”.

A sensação de correr
Supera qualquer lesão
Corre duas vezes  na semana
E no sábado vai pro longão
Fora os eventos e as provas
Que duplica a emoção.

E naquela empolgação
Marca logo para viajar
As férias da família
Vão todos pro além-mar
E logo a mulher descobre
Que é pra correr e não pra amar,

“Seis meses que eu não saio”
-Dormi cedo pra correr
“Vamos para um aniversário?”
-Mas eu não posso beber
A mulher só reclamando
Chame para ir com você.

Agora você já consegue
Correr sem puxar o ar
A meta é baixar o tempo
As pernas tem que esticar
E tome massagem e drenagem
Pilates, nadar, pedalar.

Vai para um nutricionista
Logo a comida mudou
O que era arroz, macarrão
Carboidrato virou
E frango, ovo e bife
Proteína se tornou.

Tira o glúten da dieta
Evita a inflamação,
Como antioxidante
Em jejum toma um limão,
E em véspera de corrida
Um prato de macarrão.

“Tudo demais é veneno”
“Respeite o seu limite”,
Já ouvi muito conselho
De gente dando palpite,
Nunca eu dei cabimento
Agora tome outra “ite”

Enquanto o TENS funciona
Aqui na fisioterapia
Escrevo mais esse verso
Rezo uma Ave Maria
Pra ficar bom e voltar
Correr com sabedoria

Nunc a mais mudo a passada
Respeitarei o descanso,
Prometo que alongarei
Hidratarei feito ganso,
Só uma prova por mês
Assim mais longe eu alcanço.

E para você meu amigo
Que correu ou correrá
Ficam aí essas dicas
Pra correr sem lesionar,
Pois num há desgosto maior
Que não poder mais treinar.

No treino a mente se esvazia
Concentra a respiração
As canelas batem na bunda
No peito, o coração
E o suor que transpira
É cheio de emoção.

Já corri no mundo inteiro
No Brasil, várias cidades
Mas na Chapada do Araripe
Falo com sinceridade
É o cenário perfeito
Para um longão de verdade.

Fica aqui o meu convite
Quando vier por aqui
Na Chapada do Araripe
Aqui no meu Cariri
Correr no meio dos Ipês

E nas sombras dos pés de pequi.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

PADECER NO PARAÍSO


A grande expectativa
Agora vai terminando,
É dor pra cima e pra baixo
O couro vai esticando,
E só mais uma forcinha
Aparece a cabecinha
E o neném vai chorando.

Chega a maternidade
Uma fase especial,
Que começa no resguardo
É só canja e mingau,
Uma garapa coada
Até cerveja adoçada
Pro leite sair normal.

Os peitos já vão inchando
Mas o leite não chegou,
Três dias de desespero
O menino não mamou,
É dia e noite chorando
E os dois vão pelejando
Até que o leite espirrou.

E ali agora no peito
De um jeito desajeitado,
Sai rasgando e puxando
O bico todo rachado,
E as lágrimas vão descendo
Vai feliz, mesmo sofrendo
Vendo ele alimentado.

Agora de bucho cheio,
O pescoço pende pro lado
Os bracinhos esmorecidos
Um sorriso é esboçado,
E quando coloca no berço
- Agora eu adormeço!
Vejo os olhos arregalados.

Pensando que enfim se ia
Tomar banho descansada,
Volta o menino pro peito
Pra completar a mamada,
Que finalmente adormece
E quando termina a prece
Toma um banho de golfada.

E logo o umbigo cai
Que temia machucar,
Mas o banho ainda é novela
Temendo o menino queimar,
Esquenta, esfria, esquenta
Todo dia é uma tormenta
Fora o receio de afogar.

Lá pela quarta semana
Sem dormir nem cochilar,
Vai cuidando do bruguelo
Que já suga sem parar,
Ele gordo e sadio
Você, um Cancão lambido
Feia, seca, de assustar,

- Estou tão desorientada
Com essas noites mal dormidas,
Que tem hora que me vejo
Feito uma doida varrida,
Conto o que aconteceu
Num surto que me deu
Na madrugada perdida.

-Eu não sei que horas eram
Pulei da cama ligeiro,
Fui baixando a camisola
Tirando o peito primeiro
Com algodão fui limpando
Quando vi tava balançando
Pra arrotar um travesseiro,

Entre fraldas e cagadas
Catinga de leite azedado,
Um cheirinho de lavanda
Ou de talco perfumado,
E lá se passou um ano
E o menino foi vingando
Crescendo muito amado.

Agora comendo papa
De tudo já preparou,
Cada colher que comeu
Um retrato registrou,
E foi se acostumando
Logo peito foi deixando
E o trabalho só aumentou.

As fezes que não fediam
Agora não tem quem aguente,
Também um pitoco desse
Come tudo sem ter dente,
Imagine você conseguir
Uma banana digerir
Quase do tamanho da gente!

Vai ficando tão sabido
Já querendo caminhar,
Enche logo de almofada
Pro bichinho não se ralar,
E apoiado na cadeira
Anda pra espreguiçadeira,
Hora de comemorar.

E chega um dia importante
Primeira separação,
Vai deixa-lo na escola
Um arroxo no coração,
E ele fica lá chorando
E você sai desmanchando
Tremendo de solidão.

E em cada aniversário
Que o filho vai completando,
Rever as fotos dos álbuns
Percebe que está passando
- Eita bicho para correr,
Esse tempo ninguém ver
Só indo, nada voltando.

Agora com os meus filhos
Penso na maternidade,
Vejo que não é fácil
Ser uma mãe de verdade,
Dá um trabalho danado
Muito tempo dedicado
Mas é uma felicidade.

Pra você que esta começando
Ou já cumpriu a missão,
“Padeça no paraíso”
Esse é o mais certo chavão
Pois provar do grande amor
Melhor que Deus fabricou
Só as mães conseguirão.





segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O QUE A REDE EMBALOU

Xilogravura Djanira da Motta e Silva

Um pano bem esticado
Dois punhos, um armador
Deitado naquela rede
Sozinho ou com um amor
Agarradinho encaixado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

A chuva pingando fino
O vento frio soprou
A terra molhada avisa
Que o legume brotou
E do tempo admirado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Foi uma invenção dos índios
Cama de agricultor
Símbolo de uma cultura
De um povo sofredor
Que dormindo pendurado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Um bebê sendo embalado
Mosqueteiro, ventilador
Dois cabos em cada ponta
Que a vassoura emprestou
E num molambo agarrado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

E aquele fundo sonoro
Do rangido do armador
Vai trazendo logo o sono
Melhor que qualquer cantor
E os olhos quase fechado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Brincadeira de criança
Que o menino imaginou
Ali um perfeito cavalo
E quem nunca cavalgou?
Uma perna de cada lado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Uma parede alvinha
Que o pé já carimbou
Para ganhar o impulso
Quase levantando voo
E o teto quase triscado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Se sair perde o lugar
Foi regra do ditador
Enfurnado o dia todo
Sem brisa, só um calor
E mesmo todo suado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Rede branca enfeitada
Que D. Isaura bordou
Ponto de cruz e crochê
Desenhado uma flor
E com os punhos trocados
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Deitar de dois incomoda
Imprensa, dói, um horror
Agora se for o xodó
Que na beirinha sentou
Diz que está é folgado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Enche o chão de almofada
A rede logo baixou
Mais cuidado e precaução
A corrente colocou
E no chão quase encostado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Depois de uma refeição
Esmoreceu, cochilou
O ronco logo anuncia
O corpo já relaxou
E num sono ferroado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

Depois de umas cachaças
Quando já se embriagou
De pé já não conseguia
Deitado, o mundo rodou
E quase já desmaiado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou

A  vida chega ao fim
Com um sopro de pavor
Empacotado na rede
Despedida, choro e dor
E nela vai enterrado
Vai naquele balançado
Que a rede embalou.


sábado, 21 de fevereiro de 2015

Três genros, Uma sogra e Um bilhete de loteria


Eu nunca aceitei encomenda
Pra escrever um cordel,
Velório ou batizado
Noivo entregando anel,
Só mesmo por um bom mote
Ou inspiração do céu.

Mas pela primeira vez
Vou abrir uma exceção,
Vou escrever esses versos
A pedido dum patrão,
Afinal quem não faria
Um cordel por um milhão?

Mais detalhes dessa estória
Agora vou lhe contar,
Só não saia espalhando
Contando em beira de bar,
Foi um presente pra sogra
Que Teles quis homenagear.

Estava deitado em casa
E recebeu uma ligação,
Do seu cunhado Marquim
Chamando pr’uma reunião,
Na casa da sogra Neuma
“É sério, não falte não”.

Chamou a sua senhora
Arrumou logo os meninos,
Mas seu pensamento era
“Os anjos tocaram o sino,
Foi talvez uma doença
Que veio mudar o destino”.

No caminho para a sogra
Viajou no pensamento,
Do pinico à bomba atômica
Foi do 0 a 100%
Da angustia à alegria
Do alívio ao tormento.

Sua senhora do lado
Não fazia nem um gesto,
“O que foi que sucedeu?
Será que foi um sequestro?
Bem que antonte eu tive
Um sonho meio funesto”.

Quando chegou logo viram
Uma cena impressionante
D. Neuma pinotando
Vestida em um colante,
Só gritava “Eu vou comprar,
Dois quilos de diamante”.

Teles então concluiu
“D. Neuma tá surtada”,
Os dois genros lhe chamaram
 Pruma sala isolada,
E anunciaram um fato:
“A sogra foi premiada”.

“Nossa sogrinha ganhou
36 e oitocentos
De milhões de reais
Livre de imposto, isento
Na loteria da mega
Nesse exato momento”.

Teles pegou o bilhete
Olhou sem acreditar
Quatro minutos de amor
Olhando Neuminha dançar,
“Eu sabia que um dia
Tudo ia compensar”.

Passando a euforia
Cada um já foi pensando,
O que nós vamos fazer?
Qual seria o nosso plano?
Pra dividir o dinheiro
Sem parecer desumano.

Juliano, eu não falei
Era o genro preferido
Ele foi logo dizendo
Que o dinheiro repartido
Daria 12 pra cada
1/3 bem dividido.

“Mas e os 800 mil?”
Perguntou logo Marquim
“D. Neuma é sem noção,
Com tanto dinheiro assim
Vai torrar só com besteira
Com calçado e michelim”.

Teles disse “É melhor,
Comprar de papel higiênico,
Limpo essa grande cagada
Pago o financiamento
E a minha fabrica Pimpo
Ganha mais investimento”.

Juliano, caba esperto
Claro que não concordou,
“Melhor comprar uns tecidos
Algo que é mais durador,
Ou então compre uns cavalos
Sou vaqueiro vencedor”.

“Nem pensar!” disse Marquim
“Com a sobra do dinheiro:
Compro um carro importado,
Viajo pro estrangeiro,
Ainda trago de presente,
Uns paninhos de banheiro”.

Enquanto os abestados
Tavam tudo planejando,
D. Neuma atrás da porta
Estava só escutando,
Guardou o bilhete na bolsa
Devagar foi escapando.

Pegou o marido na loja
E tocou pro aeroporto,
“Vamos embora daqui
Viver com luxo e conforto,
Pois esses genros safados
Não quero ver mais nem morto”.

E assim vou terminando
Esses versos de cordel,
Pois um milhão que é bom
Só de rolo de papel,
Não vou ficar esperando
Cair dinheiro do céu.

Agora eu vou é atrás
De D. Neuma estribada,
Dizem que foi pra Zeuropa
Comprar bolsa importada,
Beber só Veuve Clicquot
Da aurora à madrugada.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

MAIS SABIDO QUE ELEITOR É PREFEITO DE INTERIOR


Quem já viu uma eleição
Dessas de interior,
Que a cidade se divide
Cada prefeito uma cor,
Entenderá essa história
Que em Apirol se passou.

Quando o partido escolheu
Que eu seria o candidato,
Deu um frizim na barriga
Tentei desfazer o trato,
Mas quando vi, já era
No cartaz o meu retrato.

Nunca ganhei um sorteio
Nem arremate em leilão,
Nunca ninguém me escolheu
Nem pra ser par de São João,
Mas será que era a vez,
Logo uma eleição?

Trabalhar e passar ordem
Isso até que sei fazer,
Mas voto de apiroense
Não se tem por merecer,
Empenhei foi a fazenda
Para poder concorrer.

A campanha aconteceu
Feito guerra em Israel,
Era surra de vassoura
Ovo podre no chapéu,
E ainda os mais valentes
Mandava bala pro céu.

Eram as comadres intrigadas
Cada uma d'um partido,
Um bêbo gritava meu nome
Pro outro, um doido varrido,
Até os padres brigaram
Deixando os fiéis perdidos.

Em Apirol nunca vi
Eleição mais disputada,
Era 50 à 50
A pesquisa anunciada,
Só ressuscitando defunto
Pra desempatar a cilada.

Se somasse os quilômetros
Os distritos que visitei,
Com as xícaras de café
E os abraços que eu dei,
Ia de Apirol à lua
Pelo menos umas três vezes.

E nas últimas semanas
O negócio apertou,
Era comício e dinheiro
Era presente e favor,
Só num prometi os fundos
Por que a mulher num deixou.

E então chegou o dia
O frio na barriga voltou,
Prometi a Nossa Senhora
Decorar bem lindo o andor,
E foi quando uma estrela
Bem alto no céu brilhou.

E aquele friozinho
Virou uma dor de barriga,
Me caguei o dia todo
O rádio liga e desliga,
E então anunciaram
O vencedor da partida.

“Meu Senhor muito obrigado
Por vencer essa disputa,
me sentindo um galo
Quando termina uma luta,
Meio fraco, escangotado
Mas de alma lavada e enxuta”.

Agora vou lhe contar
A 2a. parte da estória,
Recontaram mais de uma vez
Os votos da minha vitória
Pois a diferença foi de 1,
Ponto que trouxe a glória.

E cada um que chegava
Para me cumprimentar,
Dizia “ô seu prefeito
Não esqueça de mim lá,
Pois foi graças ao meu voto
Que você vai governar”.

Sr. Zeba chegou dizendo
“Eu vim lá de Juazeiro,
A topic quebrou na rodagem
Passei o maior aperreio
E quando cheguei na sessão
Meu voto foi o derradeiro”.

Chica de Rossi com 90
Votar já não era obrigada,
Com catarata nos olhos
De hemorroida operada,
Deu também o voto minerva
Aquele que eu precisava.

Os meninos de 16
Feito Pedro de Francimar,
Diz que ele que me elegeu
Pois não ia nem votar,
Só tirou o documento
Que era pr’eu poder ganhar.

Até defunto alegou
Que morreu pra eu vencer
Apoiava outro partido
Mas veio a falecer,
A dois dias da eleição
Vindo me favorecer.

Se cada um que chegou
Tivesse votado em mim,
Hoje eu era Deputado
E andava num jatim,
Tava morando em Brasília
E não no meio do capim.

Mas só sei que cada voto
Teve um grande valor
Agora tenho que honrar
O banco, o meu fiador
Pois é devendo dinheiro
Que gastei com eleitor.

Eles dizem que votaram
Por amor e por bondade
Mas destar se eu num tivesse
Vendido a propriedade
E derramado o dinheiro
Pelas ruas da cidade.

Pois vou logo avisando
Que ninguém me elegeu,
Eu comprei foi cada um
Dos votos que apareceu,
Besta foi o outro lado
Que gastou menos que eu.

Só quero esperar e ver
Se valeu a pena aplicar,
O dinheiro que gastei
Quero ver quadruplicar,
Quero agora três fazendas
E mil garrotes a pastar.

Agora que tomei gosto
Quero a reeleição,
Com tanto dinheiro assim
Compro até a oposição,
Pois outro aperreio desses
Tai que passo mais não.