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sexta-feira, 8 de maio de 2015

PADECER NO PARAÍSO


A grande expectativa
Agora vai terminando,
É dor pra cima e pra baixo
O couro vai esticando,
E só mais uma forcinha
Aparece a cabecinha
E o neném vai chorando.

Chega a maternidade
Uma fase especial,
Que começa no resguardo
É só canja e mingau,
Uma garapa coada
Até cerveja adoçada
Pro leite sair normal.

Os peitos já vão inchando
Mas o leite não chegou,
Três dias de desespero
O menino não mamou,
É dia e noite chorando
E os dois vão pelejando
Até que o leite espirrou.

E ali agora no peito
De um jeito desajeitado,
Sai rasgando e puxando
O bico todo rachado,
E as lágrimas vão descendo
Vai feliz, mesmo sofrendo
Vendo ele alimentado.

Agora de bucho cheio,
O pescoço pende pro lado
Os bracinhos esmorecidos
Um sorriso é esboçado,
E quando coloca no berço
- Agora eu adormeço!
Vejo os olhos arregalados.

Pensando que enfim se ia
Tomar banho descansada,
Volta o menino pro peito
Pra completar a mamada,
Que finalmente adormece
E quando termina a prece
Toma um banho de golfada.

E logo o umbigo cai
Que temia machucar,
Mas o banho ainda é novela
Temendo o menino queimar,
Esquenta, esfria, esquenta
Todo dia é uma tormenta
Fora o receio de afogar.

Lá pela quarta semana
Sem dormir nem cochilar,
Vai cuidando do bruguelo
Que já suga sem parar,
Ele gordo e sadio
Você, um Cancão lambido
Feia, seca, de assustar,

- Estou tão desorientada
Com essas noites mal dormidas,
Que tem hora que me vejo
Feito uma doida varrida,
Conto o que aconteceu
Num surto que me deu
Na madrugada perdida.

-Eu não sei que horas eram
Pulei da cama ligeiro,
Fui baixando a camisola
Tirando o peito primeiro
Com algodão fui limpando
Quando vi tava balançando
Pra arrotar um travesseiro,

Entre fraldas e cagadas
Catinga de leite azedado,
Um cheirinho de lavanda
Ou de talco perfumado,
E lá se passou um ano
E o menino foi vingando
Crescendo muito amado.

Agora comendo papa
De tudo já preparou,
Cada colher que comeu
Um retrato registrou,
E foi se acostumando
Logo peito foi deixando
E o trabalho só aumentou.

As fezes que não fediam
Agora não tem quem aguente,
Também um pitoco desse
Come tudo sem ter dente,
Imagine você conseguir
Uma banana digerir
Quase do tamanho da gente!

Vai ficando tão sabido
Já querendo caminhar,
Enche logo de almofada
Pro bichinho não se ralar,
E apoiado na cadeira
Anda pra espreguiçadeira,
Hora de comemorar.

E chega um dia importante
Primeira separação,
Vai deixa-lo na escola
Um arroxo no coração,
E ele fica lá chorando
E você sai desmanchando
Tremendo de solidão.

E em cada aniversário
Que o filho vai completando,
Rever as fotos dos álbuns
Percebe que está passando
- Eita bicho para correr,
Esse tempo ninguém ver
Só indo, nada voltando.

Agora com os meus filhos
Penso na maternidade,
Vejo que não é fácil
Ser uma mãe de verdade,
Dá um trabalho danado
Muito tempo dedicado
Mas é uma felicidade.

Pra você que esta começando
Ou já cumpriu a missão,
“Padeça no paraíso”
Esse é o mais certo chavão
Pois provar do grande amor
Melhor que Deus fabricou
Só as mães conseguirão.





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