Quem já viu uma eleição
Dessas de interior,
Que a cidade se divide
Cada prefeito uma cor,
Entenderá essa história
Que em Apirol se passou.
Quando o partido escolheu
Que eu seria o candidato,
Deu um frizim
na barriga
Tentei desfazer o trato,
Mas quando vi, já era
No cartaz o meu retrato.
Nunca ganhei um sorteio
Nem arremate em leilão,
Nunca ninguém me escolheu
Nem pra ser par de São João,
Mas será que era a vez,
Logo uma eleição?
Trabalhar e passar ordem
Isso até que sei fazer,
Mas voto de apiroense
Não se tem por merecer,
Empenhei foi a fazenda
Para poder concorrer.
A campanha aconteceu
Feito guerra em Israel,
Era surra de vassoura
Ovo podre no chapéu,
E ainda os mais valentes
Mandava bala
pro céu.
Eram as comadres intrigadas
Cada uma d'um partido,
Um bêbo
gritava meu nome
Pro outro, um doido varrido,
Até os padres brigaram
Deixando os fiéis perdidos.
Em Apirol nunca vi
Eleição mais disputada,
Era 50 à 50
A pesquisa anunciada,
Só ressuscitando defunto
Pra desempatar a cilada.
Se somasse os quilômetros
Os distritos que visitei,
Com as xícaras de café
E os abraços que eu dei,
Ia de Apirol à lua
Pelo menos umas três vezes.
E nas últimas semanas
O negócio apertou,
Era comício e dinheiro
Era presente e favor,
Só num prometi os fundos
Por que a mulher num deixou.
E então chegou o dia
O frio na barriga voltou,
Prometi a Nossa Senhora
Decorar bem lindo o andor,
E foi quando uma estrela
Bem alto no céu brilhou.
E aquele friozinho
Virou uma dor de barriga,
Me caguei o dia todo
O rádio liga e desliga,
E então anunciaram
O vencedor da partida.
“Meu Senhor muito obrigado
Por vencer essa disputa,
Tô me sentindo um galo
Quando termina uma luta,
Meio fraco, escangotado
Mas de alma lavada e enxuta”.
Agora vou lhe contar
A 2a. parte da estória,
Recontaram mais de uma vez
Os votos da minha vitória
Pois a diferença foi de 1,
Ponto que trouxe a glória.
E cada um que chegava
Para me cumprimentar,
Dizia “ô seu prefeito
Não esqueça de mim lá,
Pois foi graças ao meu voto
Que você vai governar”.
Sr. Zeba chegou dizendo
“Eu vim lá de Juazeiro,
A topic quebrou
na rodagem
Passei o maior aperreio
E quando cheguei na sessão
Meu voto foi o derradeiro”.
Chica de Rossi com 90
Votar já não era obrigada,
Com catarata nos olhos
De hemorroida operada,
Deu também o voto minerva
Aquele que eu precisava.
Os meninos de 16
Feito Pedro de Francimar,
Diz que ele que me elegeu
Pois não ia nem votar,
Só tirou o documento
Que era pr’eu poder ganhar.
Até defunto alegou
Que morreu pra eu vencer
Apoiava outro partido
Mas veio a falecer,
A dois dias da eleição
Vindo me favorecer.
Se cada um que chegou
Tivesse votado em mim,
Hoje eu era Deputado
E andava num jatim,
Tava morando em Brasília
E não no meio do capim.
Mas só sei que cada voto
Teve um grande valor
Agora tenho que honrar
O banco, o meu fiador
Pois tô é
devendo dinheiro
Que gastei com eleitor.
Eles dizem que votaram
Por amor e por bondade
Mas destar
se eu num tivesse
Vendido a propriedade
E derramado o dinheiro
Pelas ruas da cidade.
Pois vou logo avisando
Que ninguém me elegeu,
Eu comprei foi cada um
Dos votos que apareceu,
Besta foi o outro lado
Que gastou menos que eu.
Só quero esperar e ver
Se valeu a pena aplicar,
O dinheiro que gastei
Quero ver quadruplicar,
Quero agora três fazendas
E mil garrotes a pastar.
Agora que tomei gosto
Quero a reeleição,
Com tanto dinheiro assim
Compro até a oposição,
Pois outro aperreio desses
Tai que passo mais não.
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