Eu nunca aceitei encomenda
Pra escrever um cordel,
Velório ou batizado
Noivo entregando anel,
Só mesmo por um bom mote
Ou inspiração do céu.
Mas pela primeira vez
Vou abrir uma exceção,
Vou escrever esses versos
A pedido dum patrão,
Afinal quem não faria
Um cordel por um milhão?
Mais detalhes dessa estória
Agora vou lhe contar,
Só não saia espalhando
Contando em beira de bar,
Foi um presente pra sogra
Que Teles quis homenagear.
Estava deitado em casa
E recebeu uma ligação,
Do seu cunhado Marquim
Chamando pr’uma reunião,
Na casa da sogra Neuma
“É sério, não falte não”.
Chamou a sua senhora
Arrumou logo os meninos,
Mas seu pensamento era
“Os anjos tocaram o sino,
Foi talvez uma doença
Que veio mudar o destino”.
No caminho para a sogra
Viajou no pensamento,
Do pinico à bomba atômica
Foi do 0 a 100%
Da angustia à alegria
Do alívio ao tormento.
Sua senhora do lado
Não fazia nem um gesto,
“O que foi que sucedeu?
Será que foi um sequestro?
Bem que antonte eu tive
Um sonho meio funesto”.
Quando chegou logo viram
Uma cena impressionante
D. Neuma pinotando
Vestida em um colante,
Só gritava “Eu vou comprar,
Dois quilos de diamante”.
Teles então concluiu
“D. Neuma tá surtada”,
Os dois genros lhe chamaram
Pruma sala isolada,
E anunciaram um fato:
“A sogra foi premiada”.
“Nossa sogrinha ganhou
36 e oitocentos
De milhões de reais
Livre de imposto, isento
Na loteria da mega
Nesse exato momento”.
Teles pegou o bilhete
Olhou sem acreditar
Quatro minutos de amor
Olhando Neuminha dançar,
“Eu sabia que um dia
Tudo ia compensar”.
Passando a euforia
Cada um já foi pensando,
O que nós vamos fazer?
Qual seria o nosso plano?
Pra dividir o dinheiro
Sem parecer desumano.
Juliano, eu não falei
Era o genro preferido
Ele foi logo dizendo
Que o dinheiro repartido
Daria 12 pra cada
1/3 bem dividido.
“Mas e os 800 mil?”
Perguntou logo Marquim
“D. Neuma é sem noção,
Com tanto dinheiro assim
Vai torrar só com besteira
Com calçado e michelim”.
Teles disse “É melhor,
Comprar de papel higiênico,
Limpo essa grande cagada
Pago o financiamento
E a minha fabrica Pimpo
Ganha mais investimento”.
Juliano, caba esperto
Claro que não concordou,
“Melhor comprar uns tecidos
Algo que é mais durador,
Ou então compre uns cavalos
Sou vaqueiro vencedor”.
“Nem pensar!” disse Marquim
“Com a sobra do dinheiro:
Compro um carro importado,
Viajo pro estrangeiro,
Ainda trago de presente,
Uns paninhos de banheiro”.
Enquanto os abestados
Tavam tudo planejando,
D. Neuma atrás da porta
Estava só escutando,
Guardou o bilhete na bolsa
Devagar foi escapando.
Pegou o marido na loja
E tocou pro aeroporto,
“Vamos embora daqui
Viver com luxo e conforto,
Pois esses genros safados
Não quero ver mais nem morto”.
E assim vou terminando
Esses versos de cordel,
Pois um milhão que é bom
Só de rolo de papel,
Não vou ficar esperando
Cair dinheiro do céu.
Agora eu vou é atrás
De D. Neuma estribada,
Dizem que foi pra Zeuropa
Comprar bolsa importada,
Beber só Veuve Clicquot
Da aurora à madrugada.
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