Páginas

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Alexyton na peleja de viver

Esse cordel também faz parte das homenagens que fiz as pessoas especiais que passaram na minha vida. Essa é para meu compadre Drayton. Na ocasião ele partia de Paris depois de ter vivido 4 anos na capital Napoleônica.

É hora de ir embora
Vou p’ontar a minha gente
Recomeçar minha vida
Ver o que vem pela frente
Espero fazer fortuna
Curando o povo doente

Aqui vivi quatro anos
Com o coração dividido
Uma hora achando bom
Outra, um inferno sofrido
Agora vou sossegado
Consciente do escolhido

O tempo passou depressa
Feito uma tempestade
Levou minha juventude
Os cabelos perdi a metade
Engordei uns vinte quilos
E aumentei quatro idade

Hoje sei que o melhor
É voltar pro meu cantim
Ond’eu dormia de rede
Escutando os passarim
Acordava com as galinhas
Cantando no meu jardim

Voltar  a comer cuscuz
Um queijim de coalho assado
Paçoca, baião-de-dois
Com uma banana do lado
Rapadura e quebra-queixo
E caldo de cana gelado

Para findar com a saudade
Vou tomar umas cachaça
Passar a noite num forró
Dançando e achando graça
Quando as pernas esmorecer
Me deito no banco da praça.

Como é que pude amar
Essa terra estrangeira
Onde a gente é abusada
Lundunzenta e traiçoeira
Na frente te diz bonjour
Por tras é je m’en fouts
E depois larga a rasteira.

Aqui nessa terra longe
O povo não me deu valor
Nem mesmo reconhecceu
Meu diploma de doutor
Pro meus documentos valer
Tem que ir pr’um tradutor.

Eu tentei me acostumar
Fazer daqui a morada
Passei a falar que nem eles
Fazendo uma voz afinada
Botei gel, comprei patins
E até blusa estampada.

Eu sentei na mesa deles
Comi queijo com baguette
Camembert, Brie, Roquefort
Reblochon com tartiflette
Fazia como eles queria
Parecia marionete

Também fiz muito passeio
Visitei muitas cidade
Tudo de muita beleza
Principalmente as cumade
Mas nenhuma conseguiu
Me trazer felicidade

Entao vi que aqui não era
Terra para se morar
Os homem, se beija no rosto
As mulher, esquece de se raspar
Sem contar com o fedor
Mesmo num fri de nevar

Na mala, além dos catéteres
Levo o que aqui aprendi
Experiência e lembrança
Dos amigos que eu fiz
E não deixo o mais importante
Minha veiazinha Cris

Ela não é estrangeira
É baiana das porretas
Tem uns cacoete de véi
Fala feito carrapeta
Tirando os outros defeitos
Ela é quase perfeita

O feitiço foi dos grandes
Oxúm, Ogúm, Oxalá
E com um carrego desse
Não tive como escapar
Comprei um par de anel
E me arrumei pra casar

E aí não teve jeito
A mulher me arrastou
Me tirou do Ceará
Pra morar em Salvador
Só não sei que mal eu fiz
Para carregar esse andor

É mais coisa esquisita
Que eu vou ter que aprender
Bater tambor de macumba
Comer com muito dendê
Falar bem arrastadim
E dançar no ilê-aiê

Mas quem sabe um dia eu volte
Pra minha terra sonhada
Fortaleza de Assunção
Por Ela abençoada
Lugar de gente fuleiro
Dos boneco e mungangueiro
Que se vive de risada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário