Um espelho em minha frente,
Comecei a refletir
Se eu deixasse de ser gente!
Gostaria de escolher
Pra noutra vida nascer
Um branco e bonito dente.
Faço uma imposição
Se um dia um dente eu for:
Só virei como um incisivo
Do sextante inferior,
Central ou então lateral
Qualquer um está legal,
Só não quero sentir dor.
Agora vou explicar
Essa minha decisão:
Já tenho 50 anos
Só trinta de profissão,
Conheço bem a ciência
E na minha experiência
Vi diversas dentição.
Já vi boca desdentada,
Caco de dente caindo,
Preto, mole e quebrado
Na boca de véi e menino,
Sem ter mais o que fazer
Endo, pode esquecer!
Extrair resta o destino.
Mas os incisivo de baixo
São da regra, a exceção,
Cai os de cima e os do lado
E eles se dão a mão,
E numa péinha de osso
Agüentam com muito esforço
Mesmo sem sustentação.
Mas para lhe convencer
Da potência desses dentes,
Escrevi toda uma saga
Dos 32 componentes,
Que habitam o meio oral
Formando família Bucal
Todos membros permanentes.
Os patriarca do grupo
São os 1° molar,
Os donos nem se apercebem
Novidades nesse lar,
Pois nenhum precisou cair
Para esse outro vir
Ocupar o seu lugar.
O bicho até que é bonito
Grande, gordo e vistoso,
Cinco cúspide sai rasgando
A gengiva orgulhoso,
Mas logo que ele aparece
As bactérias adormece
Naquele sulco gostoso.
Assim também acontece
No 1° molar superior,
Com sua ponte de esmalte
Surge como imperador,
Mas as bactérias danada
Não se sentem encabulada
Com glamour, nem esplendor.
As bichas se pregam nos dentes
Formando uma espécie de placa
Mesmo o esmalte que é duro
Que não fura nem com faca,
Fica branco e arrebenta
Cavita, não se sustenta
Sobrando uma dentina fraca.
Em seguida é minha vez
De estrear, de nascer,
Depois de esperar paciente
O decíduo absorver,
De mansinho vou surgindo
Magro, pequeno, franzino
Sem quase ninguém perceber.
E assim vai sucedendo
A troca da dentição,
Os pequenos vão caído
Abrindo espaço no chão,
Vem os grandes permanentes
Saudáveis e imponentes
Pra cumprir sua função.
A essa altura da história
Os pobres dos 1° molar
Já tão todos cariados
MOD, vestibular,
Endo, Perio se tentou
Sucesso num alcançou
Só resta agora arrancar.
Lá se foi a turma dos seis
Ficaram os 2° molar,
Cansados de morder só
Não têm em quem se encostar,
Os 3° nunca aparecem
Encruam, o dono se esquece
O jeito é mesializar.
Tentam encontrar os prés
Mas esses tão bem distante,
Observando a marmota
Com dois “óis” de diamante,
Virando quase uma cobra
Esperando só as sobra
E um fim interessante.
Pois o 2° molar
Que ali ficou sozinho,
Perdeu osso ao redor
Por não ter nenhum vizinho,
Uma furca se formou
Um túnel não funcionou
Tiraram feito espinho.
E o fim dos irmãos queixar
Veio com uma cirurgia,
O bisturi na gengiva
O cinzel na osteotomia,
Arrancaram até o saco
Só deixaram o buraco
Preto na radiografia.
Agora éramos vinte
Mas outros iam partir,
Pré com função de molar
Nunca pôde resistir,
Dá problema de oclusão
Trinca e abfração
Comece a se despedir.
As vezes por guerra de espaço
O fim dos prés é antecipado,
O mandante é Ortodôntico
Cangaceiro alvoroçado,
E mesmo tando quetim
Sem cárie e bem durim
Terminam sacrificado.
“Mas não tem problema não”
Diz feliz o paciente,
“Os carros-chefe ficaram
Inda tenho doze dentes,
Os centrais superior
Os dentes de mais valor
Inda estão aqui presentes”.
Logo uma fatalidade
De repente acontece,
Escorrega numa banana
Ainda grita uma prece,
“Valei-me nosso Senhor!
Salve meus superior”
Mas esses desaparece.
Lá se foram os elementos
Considerado os estéticos,
Pra poder viver feliz
Só um trabalho protético,
Mas os pobre dos caninos
Que sobraram no menino
Estão num estado patético.
O tal do planejamento
Condenaram os tadim,
Pra botar a dentadura
Tem que tirar os bichim,
Agora prepara a força
Que num é serviço de moça
Tirar duas presas assim.
Para honrar os seus parente
Companheiros de maxilar,
As presas aprofunda a raiz
Encrua, não sai do lugar,
Diz que “daqui eu não saio
Só vindo de cima um raio
Para me desintegrar”.
Tornou-se muito estranho
Viver aqui nesse meio,
A dentadura de cima
Faz um barulho tão feio!
Quando escorrega na gente
Geme feito um doente
Padecendo em tiroteio.
A história encompridou
Vou resumir pra vocês:
Dos 32 que nós éramos
Agora somos só seis,
Os elementos anterior
Da arcada inferior
Ganhando esse xadrez.
Mas lá vem os maledito
Dos grampos da removível,
Agarrar os dois canino
Como elemento impossível,
E nele vem apoiar
Fazer força e empurrar
Sendo o fim já previsível.
Os coitado não aguentam
Os puxavanco e a pressão
Perdem o periodonto
Ganham uma recessão,
Uma cárie de raiz
Escapando por um triz
De uma mais grave lesão.
E lá se vão meus vizinhos
Amigos, quase irmão,
Partiram sem despedir
Mas deixaram para nós a função,
De suportar, preservar
Todo osso alveolar
Sem fazer reclamação.
Pra escapar do naufrágio
Nós quatro nos agarramos,
O tártaro grudou na gente
E quase nós afundamos,
Até a língua e o lábio
Nossos amigos tão sábio
Não estão nos ajudando.
E ai não teve jeito
Depois de ver o doutor,
Ele logo olhou pra gente
E então sentenciou
“É o fim! eu sinto muito
Revover esses defuntos
Que tanto lhe ajudou”.
“Mas não se preocupe não
Eu vou botar uns implante,
Pra você volta a ser
Bacana, chique, elegante,
Voltar a falar e sorrir
Comer, roer e dormir
Mas o preço é um diamante.
Eu vou logo avisando
Que nesse mundo não há,
Cabra forte feito eu
Que agüente até descascar,
Quenga de côco babaçu
Abrir garrafa de Pitú
Sem doer, nem fraturar.
Nasci numa posição
Muito privilegiada,
Mesmo que a bactéria esteja
Aderida e bem colada,
A saliva me socorre
Neutraliza e ela morre
Não deixa uma sossegada.
Posso não ser tão grande
Formoso, e saliente,
Minha função é pequena
Ajudar os colegas da frente,
Mas eu sou feliz assim
Porque dos dente tudim
Sou eu o mais resistente.
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