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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os amigos que eu fiz

Todos os anos, nos reunimos para matar a saudade dos tempos em que moramos em Paris. Nos tornamos uma grande família, espelhada pelo Brasil. No natal de 2009, escrevi esse cordel para homenagear a todos, e convidar os padrinhos do nosso segundo filho.

Pra poder virar doutor
Fui bater lá em Paris,
Achando que mais diploma
Ia me fazer feliz,
Mas o meu maior tesouro
Foi os amigos que fiz

Começou no 2002
Quando eu cheguei na Cité,
Assustado, friorento e liso
Escapando no cassolet,
Trazia o pão do restô
E até açúcar em sachet

E veio o 1° inverno
Foi neve no mei da canela,
Era as meias na chauffage
Ceroula e lençol de flanela,
-9° grau de longe eu via
No termômetro da janela

Mas antes do banzo chegar
Meu padim teve pena d’eu,
Mandou um magote de gente
Pra virar amigo meu,
E foi logo um do Cariri
O primeiro que apareceu


Rômulo era sua graça
Cabra descente e aprumado,
Só era raparigueiro
Mas fazia tudo calado.
Chegou lá com um grande amigo
Mas acabaram brigado

Esse amigo que falei
Na estrofe anterior,
Era Lulinha, flor de laranjeira
Cabra de muito valor,
Que um dia encontrei fumando
No meio de um corredor

Logo chegou sua companheira
Mulé braba e valente,
Com Carolina da Paraiba
O chicote comia quente,
Se ele entrasse de pisante sujo
Ou usasse seus pertences

No mesmo ano conheci
Cesar Kelly e seu cocô,
O cabra obrou um tolete
Que ele mesmo se admirou,
Bateu um retrato do bicho
E sua obra publicou

A sua senhora Titinha
Mulher fina e educada,
Também faz suas obrinhas
Mesmo em terra sagrada,
No topo da torre Eiffel
Ou na beira da estrada

Seguindo o calendário
Nesse ano também conheci
Iscuma, Clarissa e Rafael
Claudia, Silvio e Madame Sophie,
Tudo era amigo e parceiro
Com quem muita cachaça bebi

Logo veio o outro ano
O dinheiro apertou,
Pra poder continuar
Me mudei pr’um muquifô,
A cama trepada no teto
E a cozinha junta com o cagador


Era a rue de La Roquette
Que o destino me reservou
Paris virou as costa pra mim
Era uma provação do Senhor
Até um calor de rachar
Uma canicule Ele mandou


Mas eu tinha muitos amigos
E assim eu resisti,
Veio então a fartura
Com a bolsa que pedi,
Deus virou-se e disse pra mim
Filho vai agora seja bem feliz

E me mandou mais amigos
Agora um malote grande,
Uns vieram de Recife
Outros de Campina Grande,
E no bolo, uns Cearense
Para que o grupo num desande

Flaviano chegou com Paulim
Parecendo um casal
Mas eram só dois amiguim
Num relacionamento legal
E então chegou Claudinha
Pra poder botar moral

No comboio veio Guga Fraga
Que chegou um tanto cabreiro,
Mas depois achou seu espaço
De ninja, parça e pagodeiro,
Fez até Mêssiê Bertrand
Sambar todo altaneiro

Veio depois um galêgo
Parecido um alemão
Tinha jeito de magnata
Mas seu nome era João
Tomou um porre tão grande
Que no outro dia pediu perdão

Carolzinha sua mulher
Uma doçura em gente
Assim como Karina de Almir
Duas doutoras pé quente
Estudiosas e aplicadas
Que cura qualquer doente

Almir um cabra de sorte
Curte a vida adoidado
às vezes compra ingresso
Não paga ou pede fiado
Depois quer passar na roleta
De um estádio fiscalizado


Outro casal que chegou
E tomou meu coração
Foi João Marcelo e Lucila
O primeiro com toda razão
Não que eu seja baitôla
Mas o homem é que é cirurgião


Lucila sua mulher
Essa é toda espilicute
Fala mais que o homem da cobra
Gesticula só falta dar chute
Mas é uma flor de pessoa
E isso não se discute

Outro casal arrochado
Veio lá do Ceará
Quando bebe umas cachaça
Ninguém pode segurar
É dois mortal e três coió
E se danam a pinotar

Vocês sabem de quem eu falo
Madame e Mêssiê Bardawil
Com esse nome tão chique
Parecem até hostil
Mas são é duas mundiça
Da melhores que já existiu

Outra dupla interessante
Que já conheci no final
Foi o tal de Túlio e Juliana
Parecia um casal normal
Mas eu logo percebi
Algo sobre-natural


Túlio tinha um objeto
Que veio logo me mostrar
Era um caixão de anjo branco
Coisa de arrepiar
Mas quando ele abriu a caixa
Era um cavaquinho de tocar

Como diria Guginha
“Tá gravado na retina”
Os momentos que vivi
Não sairão das minhas meninas
Pois se apregaram na alma
Com goma e parafina

Foram esses os amigos
E outros tantos que conheci
Claro que não citei todos
Mas não pensem que esqueci
É pra não encompridar a prosa
Que vou ficando aqui

Valha, eu já ia “oubliando”
De falar de um casal
Drayton e Cristina Rocha
Uma dupla especial
Na verdade deixei de propósito
Esses dois para o final


Agora a goela secou
Já estou emocionado
Da proposta que vou fazer
Pra esse casal arrochado
Quero que escutem bem
E não respondam adiantado

Eu e minha mulé
Ansiosos pelo nascimento
Escolhemos nossos compadres
Os padrinhos do nosso rebento
Pensem de digam de mansinho
Vocês aceitam fazer esse juramento?

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