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sábado, 13 de março de 2021

CASA DE TAIPA

 Casa de Taipa





Casinha de taipa

No meio do sertão 

Perdida no nada

Brotada do chão 

Nascida do barro

Feito um grande jarro

Igual a Adão


O seu espinhaço 

É feito de bambu

Pau de carnaúba

Esqueleto nu 

E vai sendo invadido

Moldado, esculpido 

Pelo barro cru


Encalca e alisa

Pra bem sustentar

Espera que o vento

Ajude a secar

O sol vai queimando

E ele rezando 

Pra ela não rachar 


Um buraco é a porta

Um menor a janela

Dá as costa pro sol

Pro vento entrar nela

O chão bem batido

Palha e teto revestido

E a luz é uma vela 


A sua arquitetura

Se chama Pobreza

O recurso que falta

Ganha da natureza

No silêncio solitário 

Com as mãos e o rosário

Ergue sua fortaleza


Casinha de taipa

Não vai resistir

Mas o sertanejo

Não vai desistir

Se a chuva derrubar 

Fartura vai chegar

É só reconstruir

CUSCUZ

 





A fumacinha assobia

Chamando a cozinheira

Anunciando que a massa

Tá pronta na cuscuzeira

-Pode passar o café

-Pegue galfo ou cuié

Que o cuscuz tá de primeira

 


Com charque o carne de sol

Ovo frito ou queijo assado

Tudo com ele é bom

Pode ser doce ou salgado

No almoço ou no jantar

De manhã pra acordar

Cuscuz com leite molhado

 

No nordeste ganhou fama

Por trazer muita sustância

Mas no resto do Brasil

Também comem em abundancia

Todo o tipo de mistura

Não interessa a cultura

O cuscuz é uma constância

 

É índio, branco e preto

Muié, véi e menino

Africano ou europeu

Brasileiro ou palestino

Todo mundo se agrada

Com uma boa talagada

De um  cuscuz no intestino

 

O cuscuz também agrada

Por ser fitness e nutritivo

Sem glúten, nem conservante

Não traz nenhum aditivo

Pode comer a vontade

Que a única dificuldade

É parar sem ter motivo

 

É o pão do sertanejo

Já disse nobre escritora

Alimenta não só o corpo

Mas a fé que é traidora

Quando a seca castiga

Só resta uma pobre espiga

Pra recomeçar a lavoura

 

Nesse derradeiro verso

Da comida mais popular

De cumê  de pobi e de rico

Do mais fino paladar

E pra quem tem pouco recurso

Encerro o meu discurso

 Cuscuz não pode fartar


FIQUE EM CASA

 

Meu amigo não se bula
Fique em casa por favor
Um pedido fácil desse
Num se nega prum doutor 
Pois só isso que ele pede
Só saia no corredor

Faça crochê ou costure
Arrume o que quebrou 
Lave o filtro, a geladeira 
Ou concerte aquele motor
Tanta coisa pra fazer
Que você já adiou

Faça uns polichinelos
Pule corda, ou os batente
Jogue carta, dominó 
Faça uma coisa, invente
Trancelim ou macaca
Já serve, se movimente

Cate os piolhos e as lêndeas
Dê um banho no seu animal
Lave as gaiolas, o aquário 
Dê um trato no quintal
Ajeite aquele reboco
Ou capriche na mão de cal.

E assim na quarentena
Não falta o que fazer
Importante é ficar em casa
Para doença não crescer
Aproveite essa folga
Para não se arrepender 

Sally Lacerda
#fiqueemcasa


A PANDEMIA DO 20

 A PANDEMIA DO 20








Hoje eu vou te contar

Uma história que aconteceu 

Há muito tempo atrás 

No ano de 20 apareceu

Um vírus que aterrorizou 

O mundo todo se trancou

Mas muita gente morreu


No começo só achavam

Que era uma gripe comum 

Até o presidente dizia 

“Não tem problema algum

Esse vírus lá da China

Não chega aqui menina

Não faz medo a nenhum”


Diante de uma crise política 

Começou a disseminação 

Não só as de fakenews 

Mas do vírus de mão em mão 

E o povo se preocupou

A quarentena começou 

E ninguém saia não 


O comércio logo parou

As escolas se fecharam

Academias e restaurantes

Todos as portas trancaram

Até os cabeleireiros 

Deixaram pra trás o dinheiro

E do Covid escaparam.


Não tinha um tratamento

Que fizesse um efeito

Vacina não existia

Nem muito menos um leito

UTI super lotada

Ventilador que faltava

Acuda senhor prefeito!


Veio um auxílio do governo

Pra socorrer a comunidade 

Ninguém conseguia sacar

Parecia até maldade

E o povo se aglomerou

O banco não entregou 

Só restou a caridade

 

O povo dentro de casa

Trabalhava no computador 

As aulas das crianças

Também eram no monitor 

Até a missa era remota

Transmitida pra devota

Que on line comungou


Os artistas faziam as lives

Era a única diversão 

O povo sozinho em casa

Dançava xote e baião 

As festas foram adiadas

Aniversários, serenatas

E até festa de São João 


Só podia sair de máscara 

E com um tubo de álcool em gel

Para ir ao supermercado 

Comprar comida a granel 

Em casa de tudo fazia

Até pão de padaria

Pizza, coxinha e pastel.


Como o dinheiro que tinha

Só dava para comer

As contas se acumularam

E os boletos pra vencer

A inadimplência aumentou

A economia travou

Mas não tinha o que fazer


E assim dentro de casa

As famílias ficaram unidas

Os pais falavam com os filhos

Coisas que vinham esquecidas

Música, canto e literatura 

Cozinha, arte e pintura

Voltaram a ser preferidas 


Então muito tempo passou

A pandemia foi embora

Deixou muito aprendizado 

E coração que ainda chora

Pois foi como uma guerra 

Que atingiu toda Terra

Derrubando a pessoa na hora.


Os grandes heróis da batalha 

Foram médicos e enfermeiros 

Trabalhadores do mercado

Seguranças e caminhoneiros

Eles garantiram a vida

Saúde, proteção e comida

Foram valentes guerreiros.


Sally Lacerda

Maio de 2050.