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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

E se eu nascesse dente...



Um dia de boca aberta
Um espelho em minha frente,
Comecei a refletir
Se eu deixasse de ser gente!
Gostaria de escolher
Pra noutra vida nascer
Um branco e bonito dente.

Faço uma imposição
Se um dia um dente eu for:
Só virei como um incisivo
Do sextante inferior,
Central ou então lateral
Qualquer um está legal,
Só não quero sentir dor.

Agora vou explicar
Essa minha decisão:
Já tenho 50 anos
Só trinta de profissão,
Conheço bem a ciência
E na minha experiência
Vi diversas dentição.

Já vi boca desdentada,
Caco de dente caindo,
Preto, mole e quebrado
Na boca de véi e menino,
Sem ter mais o que fazer
Endo, pode esquecer!
Extrair resta o destino.

Mas os incisivo de baixo
São da regra, a exceção,
Cai os de cima e os do lado
E eles se dão a mão,
E numa péinha de osso
Agüentam com muito esforço
Mesmo sem sustentação.

Mas para lhe convencer
Da potência desses dentes,
Escrevi toda uma saga
Dos 32 componentes,
Que habitam o meio oral
Formando família Bucal
Todos membros permanentes.

Os patriarca do grupo
São os 1° molar,
Os donos nem se apercebem
Novidades nesse lar,
Pois nenhum precisou cair
Para esse outro vir
Ocupar o seu lugar.

O bicho até que é bonito
Grande, gordo e vistoso,
Cinco cúspide sai rasgando
A gengiva orgulhoso,
Mas logo que ele aparece
As bactérias adormece
Naquele sulco gostoso.

Assim também acontece
No 1° molar superior,
Com sua ponte de esmalte
Surge como imperador,
Mas as bactérias danada
Não se sentem encabulada
Com glamour, nem esplendor.

As bichas se pregam nos dentes
Formando uma espécie de placa
Mesmo o esmalte que é duro
Que não fura nem com faca,
Fica branco e arrebenta
Cavita, não se sustenta
Sobrando uma dentina fraca.

Em seguida é minha vez
De estrear, de nascer,
Depois de esperar paciente
O decíduo absorver,
De mansinho vou surgindo
Magro, pequeno, franzino
Sem quase ninguém perceber.

E assim vai sucedendo
A troca da dentição,
Os pequenos vão caído
Abrindo espaço no chão,
Vem os grandes permanentes
Saudáveis e imponentes
Pra cumprir sua função.

A essa altura da história
Os pobres dos 1° molar
Já tão todos cariados
MOD, vestibular,
Endo, Perio se tentou
Sucesso num alcançou
Só resta agora arrancar.

Lá se foi a turma dos seis
Ficaram os 2° molar,
Cansados de morder só
Não têm em quem se encostar,
Os 3° nunca aparecem
Encruam, o dono se esquece
O jeito é mesializar.

Tentam encontrar os prés
Mas esses tão bem distante,
Observando a marmota
Com dois “óis” de diamante,
Virando quase uma cobra
Esperando só as sobra
E um fim interessante.

Pois o 2° molar
Que ali ficou sozinho,
Perdeu osso ao redor
Por não ter nenhum vizinho,
Uma furca se formou
Um túnel não funcionou
Tiraram feito espinho.

E o fim dos irmãos queixar
Veio com uma cirurgia,
O bisturi na gengiva
O cinzel na osteotomia,
Arrancaram até o saco
Só deixaram o buraco
Preto na radiografia.

Agora éramos vinte
Mas outros iam partir,
Pré com função de molar
Nunca pôde resistir,
Dá problema de oclusão
Trinca e abfração
Comece a se despedir.

As vezes por guerra de espaço
O fim dos prés é antecipado,
O mandante é Ortodôntico
Cangaceiro alvoroçado,
E mesmo tando quetim
Sem cárie e bem durim
Terminam sacrificado.

“Mas não tem problema não”
Diz feliz o paciente,
“Os carros-chefe ficaram
Inda tenho doze dentes,
Os centrais superior
Os dentes de mais valor
Inda estão aqui presentes”.

Logo uma fatalidade
De repente acontece,
Escorrega numa banana
Ainda grita uma prece,
“Valei-me nosso Senhor!
Salve meus superior”
Mas esses desaparece.

Lá se foram os elementos
Considerado os estéticos,
Pra poder viver feliz
Só um trabalho protético,
Mas os pobre dos caninos
Que sobraram no menino
Estão num estado patético.

O tal do planejamento
Condenaram os tadim,
Pra botar a dentadura
Tem que tirar os bichim,
Agora prepara a força
Que num é serviço de moça
Tirar duas presas assim.

Para honrar os seus parente
Companheiros de maxilar,
As presas aprofunda a raiz
Encrua, não sai do lugar,
Diz que “daqui eu não saio
Só vindo de cima um raio
Para me desintegrar”.

Tornou-se muito estranho
Viver aqui nesse meio,
A dentadura de cima
Faz um barulho tão feio!
Quando escorrega na gente
Geme feito um doente
Padecendo em tiroteio.

A história encompridou
Vou resumir pra vocês:
Dos 32 que nós éramos
Agora somos só seis,
Os elementos anterior
Da arcada inferior
Ganhando esse xadrez.

Mas lá vem os maledito
Dos grampos da removível,
Agarrar os dois canino
Como elemento impossível,
E nele vem apoiar
Fazer força e empurrar
Sendo o fim já previsível.

Os coitado não aguentam
Os puxavanco e a pressão
Perdem o periodonto
Ganham uma recessão,
Uma cárie de raiz
Escapando por um triz
De uma mais grave lesão.

E lá se vão meus vizinhos
Amigos, quase irmão,
Partiram sem despedir
Mas deixaram para nós a função,
De suportar, preservar
Todo osso alveolar
Sem fazer reclamação.

Pra escapar do naufrágio
Nós quatro nos agarramos,
O tártaro grudou na gente
E quase nós afundamos,
Até a língua e o lábio
Nossos amigos tão sábio
Não estão nos ajudando.

E ai não teve jeito
Depois de ver o doutor,
Ele logo olhou pra gente
E então sentenciou
“É o fim! eu sinto muito
Revover esses defuntos
Que tanto lhe ajudou”.

“Mas não se preocupe não
Eu vou botar uns implante,
Pra você volta a ser
Bacana, chique, elegante,
Voltar a falar e sorrir
Comer, roer e dormir
Mas o preço é um diamante.

Eu vou logo avisando
Que nesse mundo não há,
Cabra forte feito eu
Que agüente até descascar,
Quenga de côco babaçu
Abrir garrafa de Pitú
Sem doer, nem fraturar.

Nasci numa posição
Muito privilegiada,
Mesmo que a bactéria esteja
Aderida e bem colada,
A saliva me socorre
Neutraliza e ela morre
Não deixa uma sossegada.

Posso não ser tão grande
Formoso, e saliente,
Minha função é pequena
Ajudar os colegas da frente,
Mas eu sou feliz assim
Porque dos dente tudim
Sou eu o mais resistente.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

no céu de Sobral



























No dia 29 de maio de 1919, a Teoria Geral  da Relatividade foi provada sob o céu de Sobral, pela equipe do cientista britrânico Andrew Crommelin. Tento descrever em alguns versos o acontecido.



Os cientistas do mundo
Um dia se reuniram
Pra escolher um lugar
Onde eles provariam
A lei da relatividade
E de todas as cidades
Sobral era aonde iriam

Einsten já tinha dito
Mas queriam confirmar
Lá no meio do sertão
Em Sobral no Ceará
Foi aonde ciência do mundo
Decidiu investir afundo
E esse fato estudar

O motivo da escolha
Era claro e evidente
De todas terras do mundo
Aquela era a mais quente
Que nem eclipse solar
Faria o sol esfriar
Um dia pr'aquela gente

E logo chegou o anúncio
O povo se agoniou
Quando soube que o sol
Não iria mais se pôr
Pois ficaria escondido
E este acontecido
Atraia pesquisador

Pensaram no fim do mundo
Numa grande desgraça
Apelaram pro Padre Ciço
Pedindo a ele uma graça
Mas santo do Juazeiro
Só faz milagre a romeiro
Que vai na estátua e abraça

Pra acalmar sua gente
O prefeito convocou
Uma assembléia popular
Onde então explicou
A importância do evento
Dos homens, dos equipamentos
E o povo sossegou

Então começou a chegar
Europeu e americano
Trazendo todas as máquinas
Pra ver o sol se apagando
No meio do céu de Sobral
Num calor de passar mal
E os homens calculando

Um sol de rachar o quengo
O eclipse não começava
Os galegos já encarnados
O couro que descascava
Não tinha uma brisa de vento
Uma sombra, só cimento
E um calor que não passava

Mas a curiosidade do povo
A quentura não afetava
Todo mundo foi pra rua
Olhar o que se passava
E era tanta da gente
Nas calçada, nos batentes
Calada, só espiava

Então naquele momento
Um grande silêncio profundo
Tomou conta da cidade
Parecia o fim do mundo
Começou a escurecer
O sol, desaparecer
A noite caiu num segundo

Não sei com taparam o sol
Nem quanto tempo durou
Mas foi muito ligeiro
Que a  notícia se espalhou
Provaram a teoria
Em Sobral naquele dia
E a vida dali mudou

A partir daquele dia
A língua passou a inglês
Até os matutos da serra
Esqueçeram o português
Speake english NOW
Welcome to Sobral
Foi tudo menos de um mês.









Os amigos que eu fiz

Todos os anos, nos reunimos para matar a saudade dos tempos em que moramos em Paris. Nos tornamos uma grande família, espelhada pelo Brasil. No natal de 2009, escrevi esse cordel para homenagear a todos, e convidar os padrinhos do nosso segundo filho.

Pra poder virar doutor
Fui bater lá em Paris,
Achando que mais diploma
Ia me fazer feliz,
Mas o meu maior tesouro
Foi os amigos que fiz

Começou no 2002
Quando eu cheguei na Cité,
Assustado, friorento e liso
Escapando no cassolet,
Trazia o pão do restô
E até açúcar em sachet

E veio o 1° inverno
Foi neve no mei da canela,
Era as meias na chauffage
Ceroula e lençol de flanela,
-9° grau de longe eu via
No termômetro da janela

Mas antes do banzo chegar
Meu padim teve pena d’eu,
Mandou um magote de gente
Pra virar amigo meu,
E foi logo um do Cariri
O primeiro que apareceu


Rômulo era sua graça
Cabra descente e aprumado,
Só era raparigueiro
Mas fazia tudo calado.
Chegou lá com um grande amigo
Mas acabaram brigado

Esse amigo que falei
Na estrofe anterior,
Era Lulinha, flor de laranjeira
Cabra de muito valor,
Que um dia encontrei fumando
No meio de um corredor

Logo chegou sua companheira
Mulé braba e valente,
Com Carolina da Paraiba
O chicote comia quente,
Se ele entrasse de pisante sujo
Ou usasse seus pertences

No mesmo ano conheci
Cesar Kelly e seu cocô,
O cabra obrou um tolete
Que ele mesmo se admirou,
Bateu um retrato do bicho
E sua obra publicou

A sua senhora Titinha
Mulher fina e educada,
Também faz suas obrinhas
Mesmo em terra sagrada,
No topo da torre Eiffel
Ou na beira da estrada

Seguindo o calendário
Nesse ano também conheci
Iscuma, Clarissa e Rafael
Claudia, Silvio e Madame Sophie,
Tudo era amigo e parceiro
Com quem muita cachaça bebi

Logo veio o outro ano
O dinheiro apertou,
Pra poder continuar
Me mudei pr’um muquifô,
A cama trepada no teto
E a cozinha junta com o cagador


Era a rue de La Roquette
Que o destino me reservou
Paris virou as costa pra mim
Era uma provação do Senhor
Até um calor de rachar
Uma canicule Ele mandou


Mas eu tinha muitos amigos
E assim eu resisti,
Veio então a fartura
Com a bolsa que pedi,
Deus virou-se e disse pra mim
Filho vai agora seja bem feliz

E me mandou mais amigos
Agora um malote grande,
Uns vieram de Recife
Outros de Campina Grande,
E no bolo, uns Cearense
Para que o grupo num desande

Flaviano chegou com Paulim
Parecendo um casal
Mas eram só dois amiguim
Num relacionamento legal
E então chegou Claudinha
Pra poder botar moral

No comboio veio Guga Fraga
Que chegou um tanto cabreiro,
Mas depois achou seu espaço
De ninja, parça e pagodeiro,
Fez até Mêssiê Bertrand
Sambar todo altaneiro

Veio depois um galêgo
Parecido um alemão
Tinha jeito de magnata
Mas seu nome era João
Tomou um porre tão grande
Que no outro dia pediu perdão

Carolzinha sua mulher
Uma doçura em gente
Assim como Karina de Almir
Duas doutoras pé quente
Estudiosas e aplicadas
Que cura qualquer doente

Almir um cabra de sorte
Curte a vida adoidado
às vezes compra ingresso
Não paga ou pede fiado
Depois quer passar na roleta
De um estádio fiscalizado


Outro casal que chegou
E tomou meu coração
Foi João Marcelo e Lucila
O primeiro com toda razão
Não que eu seja baitôla
Mas o homem é que é cirurgião


Lucila sua mulher
Essa é toda espilicute
Fala mais que o homem da cobra
Gesticula só falta dar chute
Mas é uma flor de pessoa
E isso não se discute

Outro casal arrochado
Veio lá do Ceará
Quando bebe umas cachaça
Ninguém pode segurar
É dois mortal e três coió
E se danam a pinotar

Vocês sabem de quem eu falo
Madame e Mêssiê Bardawil
Com esse nome tão chique
Parecem até hostil
Mas são é duas mundiça
Da melhores que já existiu

Outra dupla interessante
Que já conheci no final
Foi o tal de Túlio e Juliana
Parecia um casal normal
Mas eu logo percebi
Algo sobre-natural


Túlio tinha um objeto
Que veio logo me mostrar
Era um caixão de anjo branco
Coisa de arrepiar
Mas quando ele abriu a caixa
Era um cavaquinho de tocar

Como diria Guginha
“Tá gravado na retina”
Os momentos que vivi
Não sairão das minhas meninas
Pois se apregaram na alma
Com goma e parafina

Foram esses os amigos
E outros tantos que conheci
Claro que não citei todos
Mas não pensem que esqueci
É pra não encompridar a prosa
Que vou ficando aqui

Valha, eu já ia “oubliando”
De falar de um casal
Drayton e Cristina Rocha
Uma dupla especial
Na verdade deixei de propósito
Esses dois para o final


Agora a goela secou
Já estou emocionado
Da proposta que vou fazer
Pra esse casal arrochado
Quero que escutem bem
E não respondam adiantado

Eu e minha mulé
Ansiosos pelo nascimento
Escolhemos nossos compadres
Os padrinhos do nosso rebento
Pensem de digam de mansinho
Vocês aceitam fazer esse juramento?