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sexta-feira, 1 de julho de 2016

MEU DESAFInO É CANTAR

Eu queria ser cantora
Feito o grande Gonzagão,
Tocar sanfona ou viola
Escrever composição,
Mas minha voz desafina
Feito grito de menina
Bem no primeiro refrão.

Nem Parabéns eu num canto
Mode não atrapalhar,
Num velório, pode ser
Ja que é feito pra chorar,
O defunto não reclama
A ainda, daquela cama
Pode até se levantar.

Nem trancada no banheiro
Meu marido num aguenta,
A voz que sai pelas brechas
Vai queimando feito pimenta,
As oiças e o quengo lateja
E eu ali na peleja
Feito relincho de jumenta.

Fui tentar cantar na missa
O padre não aguentou,
Me mandou pra sacristia
Pra ir enfeitar o andor,
Tocar o sino e ariar
Até a prata brilhar
Penitência de pecador.

Mas sei que tenho talento,
Sei tudo de cantoria,
Os passarinhos vão piando
Vou ouvindo a melodia,
E na minha cabeça os versos
Estando bem submersos
Surgem logo em harmonia.

Todo som tem sua beleza
O dia a dia é uma canção,
Seja o apito do trem
Ou a panela chiando o feijão,
A água enchendo um pote,
O cavalo num doce trote
E milho assando no carvão.

A cama de mola qu mia
O amor daquele casal,
Enquanto o rangido da rede
Vai ninando o Genival,
E o silêncio quase que fala
Acalenta e embala
O sono dos animal.

Mas é a música criada
Cantada pelo cantor,
Que enche o peito e a alma
Faz chorar, lembrar a dor,
De um amor que partiu,
Nem sequer se despediu
Foi embora e não voltou.


Mas as música que mais gosto
São as que cantam o sertão,
Lembrando da chuva e da seca
O forró vira oração,
A voz  que nem um canário
Do filho de Januário
Luiz do Exu Gonzagão.

Um dia eu hei de cantar,
E todo povo aplaudir,
Toda pronta, bem formosa
Na festa de Mauriti,
E o dia amanhecendo
O povo dançando e bebendo
Sem querer ver eu partir.

Meu show logo anunciado
Em tudo que é cartaz,
As prefeituras ligando
Os empresários atrás,
Querendo me contratar
Pra eu cantar e tocar
Mas data eu não tenho mais.

Enquanto esse dia não chega
Vou tentando me aprimorar
Fiz curso no Schoemberg
Jonhatan me expulsou de lá,
Até um doutor me operou
Mas milagre não obrou
A voz fez foi piorar.

Gargarejei mel de engenho,
Bochechei óleo de pequi,
Bebi Bálsamo da Vida,
Masquei folha de Buriti,
De nada adiantou
O gogó não destravou
Mas nunca vou desistir.

Se você conhecer um santo
Que cure gôgo de pato,
Que faça a minha voz sair
Direto pro estrelato,
Me diga urgente depressa
Que faço qualquer promessa

Pra sair do anonimato.

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