Esse cordel foi escrito após a conclusão do meu doutorado.
Um dia meu pai me
disse:
“Fia deixe esse
roçado,
Pra ser gente nessa
vida
Só sendo alfabetizado.
Ter estudo e ter
diploma
Garante dinheiro e
fama
E um futuro
sossegado”
E assim deixei
minha terra
Pai, mãe e meus
irmãos,
Sai do meu pé de
serra
Um arrocho no
coração,
Mas tinha que
estudar
Passar no
vestibular
E voltar com um
anel na mão.
Os anos foram
passando
Sofri muito de
saudade,
Queimei foi muita
pestana
Pra entra na
faculdade,
E saiu o resultado
Meu nome foi anunciado
Na rádio
Universidade.
Foi no Porangabuçu
Que aprendi a tratar
dente,
Extraí e botei
chapa
Deixei o povo
contente,
Terminei a
faculdade
E me mudei de
cidade
Pra poder virar
docente.
O caba que é
professor
Tem conhecimento
profundo,
Dar aula, palestra
e curso
Nos quatro canto do
mundo,
E é isso que eu quero
ser
Pois só doutora do
ABC
Não enche um prato
fundo.
Tentei entender a
ciência
Mas pense que é
complicado,
Tive que penar foi
muito
Para passar nesse
mestrado,
Graça a Deus terminei
E foi assim que
cheguei
No inferno do
Doutorado.
O primeiro ano é
bom
Não tem muito
desespero,
O fim da tese ta
longe
A CAPES mandou dinheiro,
O orientador gente
boa
Conta até piada a
toa
Nos congressos do
estrangeiro.
A moleza passa logo
A dificuldade
aparece,
Pra sair os
resultados
Só mesmo com muita
prece,
E depois para
entender
O que acabou de
fazer
É mais 1 mês de
estresse.
E quando você pensa
“Agora eu consegui”,
O chefe diz pra
você
“Tem tudo que
repetir,
Confirmar os
resultados,
Verificar os achados,
E só então
redigir.”
Pra poder adiantar
Repito a
experiência,
Mas depois o
professor
Vem sem muita
paciência,
Dizendo pra mudar
tudo
Recomeçar o estudo
Houve avanço na
ciência.
A bolsa tá se
acabando
Agora tem que correr,
É hora de terminar
Começar a escrever,
Botar tudo no papel
Ah! se fosse um
cordel
Eu teria mais
prazer .
Mais parece é uma Bíblia
Grossa e cheia de
versículo,
Umas palavras esquisitas
Dividida em capítulo,
Um texto bem
explicado
Mas no fundo
complicado
A começar pelo
título.
300 páginas de
texto
Me matei pra
escrever,
Corrigi mais de mil
vez
Pra uma meia duzia
ler,
Mesmo o povo do
jurado
Só passa um olho
apressado
Ainda critica você.
Pra fazer uma tese
boa
E poder virar
doutor,
É preciso publicar
Em revista de valor,
Nesse caso o que
conta
Não é resultado de
ponta
Mas quem é o
orientador.
Mas pense no medo
grande
O dia de defender,
Os homens vão
perguntar
Eu tenho que
responder,
Depressa, sem tomar
fôlego
Com voz firme e sem
gôgo
Para poder
convencer.
Nesse dia dá
tontura
Caganeira e
suadeira,
Pra num dar passamento
Muita garapa e
cidreira,
Um dose de catuaba
Ajuda a qualquer
caba
A falar sem
tremedeira.
E depois desse
chafurdo
De tese, juri, e
defesa,
Recebi o meu
diploma
Virei doutora
francesa,
Vou mandar
emoldurar
Pregar em cima do
sofá
Vai ficar uma
beleza.
Agora tenho o
diploma
Mas não sei o que
fazer
As federais não têm
vaga
As particular num
querem você
“É muito
capacitado,
Sai caro muito
obrigado”
Só faltava um
DESOLÉ
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