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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Casou-se!

Cordel em homenagem ao casamento da minha irmã Sara com meu cunhado Marcelo - abril de 2014


Daqui da minha janela
Vejo a vida acontecer.
Menino passando a rapaz,
Com a barba por fazer.
Donzela desabrochando
Que passa se requebrando
Fazendo o cabra gemer. 

Aqui passo o dia vendo,
Sentada me balançando,
Bebo subindo a calçada
Véi descendo entrambecando
Menino chupando o dedo,
Mulher correndo com medo
Dos gritos que vem levando. 

Mas de tu que eu já vi,
Numa prestei bem atenção.
Era uma meninazinha
Que virou um mulherão
Paquera, tinha uns monte
Mas não tinha o importante
Um xodó no coração. 

Essa garota franzina
Conheço desde miúda.
Subia chupando dindim,
Descia com macaúba
Sustentada por pequi
Cajuína e Buriti
Mel de engenho e rapadura. 

Pois a danada foi crescendo
Calada, mas uma espoleta.
Falasse tantinho assim
Vinha ela com uma escopeta
De palavra e de verdade
Falando numa velocidade
Virada numa carrapeta. 

A baixinha era invocada
Também pro lado do estudo
Daqui, eu só via os livros
E ela la decorando tudo
Só podia virar doutora
Advogada, Procuradora
Pois ali deu muito duro. 

Com os anos correndo
Ela foi se melhorando
Os dentes botou no lugar
Os zois que num tavam enxergando
Operou e voltou a oiar
Arrumou também outras partes
Mas que agora não cabe
D’eu aqui pronunciar. 

Só sei que virou uma morena
Bonita e inteligente,
E todo caba que via
Caia de queixo pra frente.
Mas ela, só queria dançar
Até a sandália furar
Ou o pé ficar dormente. 

E os trinta foram chegando
A família já preocupada.
Como podia o caritó
Chegar pr’uma moça letrada?
E foi muita oração
Pro Padim Ciço Romão
Deixa ela apaixonada. 

Pois num é que funcionou
E o sonho aconteceu.
Eu daqui só espiando
Vi quando chegou seu Romeu.
Ela foi se desmanchando
Ele foi se encostando
E a Terra estremeceu.

Foi uma abufelada
Daquelas que o cabra entorta.
O portão quase enverga
Eu, corri foi lá pra porta.
Era uns beijos tão lambuzado
Uns carinhos tão apregado
E pra eles nada importa.

E dali para o altar
Num passou-se nem três chuvas.
La vem ela de vestido
Anágua, grinalda e luva.
Ele todo de paletó
A gravata feita um no,
Na lapela uma flor de uva.

E daqui me debrucei
Para assistir o final
Previsto e imprevisto
Dessa novela real
Que o padre abençoou
E o sino anunciou
A união matrimonial.

A SAGA DE UMA DOUTORA



Esse cordel foi escrito após a conclusão do meu doutorado.


Um dia meu pai me disse:
“Fia deixe esse roçado,
Pra ser gente nessa vida
Só sendo alfabetizado.
Ter estudo e ter diploma
Garante dinheiro e fama
E um futuro sossegado”
  
E assim deixei minha terra
Pai, mãe e meus irmãos,
Sai do meu pé de serra
Um arrocho no coração,
Mas tinha que estudar
Passar no vestibular
E voltar com um anel na mão.
  
Os anos foram passando
Sofri muito de saudade,
Queimei foi muita pestana
Pra entra na faculdade,
E saiu o resultado
Meu nome foi anunciado
Na rádio Universidade.
  
Foi no Porangabuçu
Que aprendi a tratar dente,
Extraí e botei chapa
Deixei o povo contente,
Terminei a faculdade
E me mudei de cidade
Pra poder virar docente.

O caba que é professor
Tem conhecimento profundo,
Dar aula, palestra e curso
Nos quatro canto do mundo,
E é isso que eu quero ser
Pois só doutora do ABC
Não enche um prato fundo.
   
Tentei entender a ciência
Mas pense que é complicado,
Tive que penar foi muito  
Para passar nesse mestrado,
Graça a Deus terminei
E foi assim que cheguei
No inferno do Doutorado.
  
O primeiro ano é bom
Não tem muito desespero,
O fim da tese ta longe
A CAPES mandou dinheiro,
O orientador gente boa
Conta até piada a toa
Nos congressos do estrangeiro.
  
A moleza passa logo
A dificuldade aparece,
Pra sair os resultados
Só mesmo com muita prece,
E depois para entender
O que acabou de fazer
É mais 1 mês de estresse.

E quando você pensa
“Agora eu consegui”,
O chefe diz pra você
“Tem tudo que repetir,
Confirmar os resultados,
Verificar os achados,
E só então redigir.” 

Pra poder adiantar
Repito a experiência,
Mas depois o professor
Vem sem muita paciência,
Dizendo pra mudar tudo
Recomeçar o estudo
Houve avanço na ciência.

A bolsa tá se acabando
Agora tem que correr,
É hora de terminar
Começar a escrever,
Botar tudo no papel
Ah! se fosse um cordel
Eu teria mais prazer .

Mais parece é uma Bíblia
Grossa e cheia de versículo,
Umas palavras esquisitas
Dividida em capítulo,
Um texto bem explicado
Mas no fundo complicado
A começar pelo título.
  
300 páginas de texto
Me matei pra escrever,
Corrigi mais de mil vez
Pra uma meia duzia ler,
Mesmo o povo do jurado
Só passa um olho apressado
Ainda critica você.

Pra fazer uma tese boa
E poder virar doutor,
É preciso publicar
Em revista de valor,
Nesse caso o que conta
Não é resultado de ponta
Mas quem é o orientador.

Mas pense no medo grande
O dia de defender,
Os homens vão perguntar
Eu tenho que responder,
Depressa, sem tomar fôlego
Com voz firme e sem gôgo
Para poder convencer.
  
Nesse dia dá tontura
Caganeira e suadeira,
Pra num dar passamento
Muita garapa e cidreira,
Um dose de catuaba
Ajuda a qualquer caba
A falar sem tremedeira.
  
E depois desse chafurdo
De tese, juri, e defesa,
Recebi o meu diploma
Virei doutora francesa,
Vou mandar emoldurar
Pregar em cima do sofá
Vai ficar uma beleza.
  
Agora tenho o diploma
Mas não sei o que fazer
As federais não têm vaga
As particular num querem você
“É muito capacitado,
Sai caro muito obrigado”
Só faltava um DESOLÉ



FEDERAL DO CARIRI, A UNIVESIDADE DAQUI !




A criação da Universidade Federal do Cariri me encheu de alegria 
e me motivou para que eu escrevesse esse cordel.

Bem no sul do Ceará,
Existe um pezinho de serra,
Onde a água brota da terra,
Nascendo de uma fonte pura.
Lá, o verde vira doçura,
Pois a cana passa a melaço,
Quebrando-se aos pedaços,
Num tijolo de rapadura.

Essa é a terra que nasci
E escolhi pra viver,
E me orgulho em dizer
Sou das terras Cariris.
O lugar que fui feliz,
Pois mesmo no estrangeiro,
Pensava no Juazeiro
E esquecia Paris.

Pois foi justamente quando
Voltei a morar aqui,
Que eu me surpreendi
Com seu avanço e progresso.
Cheguei com muito sucesso,
Ganhei  ligeiro o sustento,
Alimentei meus rebentos
E agora escrevo esses versos.

Juazeiro, Crato e Barbalha
Parecem uma só cidade.
É grande a diversidade
De comércio, shopping e lazer.
É tanta coisa pra fazer,
Pra ganhar e gastar dinheiro,
Do rico ao simples romeiro
Todos esbanjam prazer.

Mesmo sofrida na seca
Ou então mal governada,
Essa terra abençoada
Nunca para de crescer.
E mesmo sem ninguém crer
O Cariri se recupera,
E o piqui de nova tempera
Do dia ao anoitecer.

O  povo daqui é sabido,
No comércio do mercado,
Na industria de calçado,
No artesanato de madeira,
Até mesmo nas pedreiras
Das pedras cariri,
Pois os fosséis que acham aqui
Viram arte em prateleiras.

Mas todo esse crescimento
Tem uma explicação,
É curso de graduação
Em pública e particular,
Espalhada no CRAJUBAR
Pra quem quiser escolher,
Ir além do ABC
E poder se diplomar.

Pois graças aos investimentos
E a interiorização,
O progresso chega ao sertão
Via as Universidades
O IFET e as Faculdades,
Trazem doutor graduado
Duns títulos tão elevados,
Vindo de várias cidades.

Agora um evento novo
Vem consolidar a história,
Dessa terra tão notória
Que é o meu Cariri bem verdim.
Pois na terra do meu Padim
Nasce uma Federal,
Um sonho que vira real
Desabrocha nesse jardim.

Conto agora os dias
Pra ver tudo funcionando,
A Reitora já no comando,
Os cursos iniciados,
Professores contratados,
Alunos que vêm chegando,
E o Cariri povoando
Dum povo sabido e letrado.

Já pensando nos cursos,
Na lista vem arquitetura
Um monte de licenciatura,
Medicina e veterinária,
Engenharia e agrária.
Difícil vai ser escolher,
Qual curso querer fazer,
Na carreira universitária.

Quem tem talento pra arte
Comece a se animar,
A tocar ou a dançar,
Fazer cinema e edição.
Pois em tudo terá formação,
Até mesmo pró-reitoria,
De arte e cultura surgiria
Como grande inovação.

E não foi só o Juazeiro
O município contemplado,
Pois o Crato já é consolidado
Com a área da agronomia,
A Barbalha já se via
Que a saúde era seu forte,
A medicina como norte
Logo outro curso viria.

Quem ainda não se agradou
Vai poder também optar
Por arquivar ou filosofar,
Quem sabe administração?
Ou talvez computação?
O importante é saber
Que no Cariri se pode escolher
Carreira por vocação.

E para fechar o grupo
Veio sem nenhum espanto,
O Icó  e o Brejo Santo
Dois municípios distantes,
Aceitar no mesmo instante
Esse grande acontecimento,
De trazer conhecimento
Para um povo ex-retirante.

Antes da UFCA
Já tivemos pessoas notórias,
Padre Cícero com todo glória
Foi o doutor da igreja,
Patativa na sua peleja
Foi o mestre da prosa e do verso,
E seu Expedito Seleiro
Fez bolsa, chinelo e arreio,
Artesão de grade sucesso.
  
O Cariri vai ser o foco,
Dos cientistas do mundo,
Que vem estudar bem profundo
As coisas que têm aqui,
Para tentar descobrir
As riquezas da região,
Mostrando em primeira mão
A força do Cariri.

Agora com A UFCA
A ciência chega ao sertão,
Inglês, francês, alemão
Vão ser falados aqui,
Gringo comendo Pequi,
Caririense Nobel,
Recebendo prêmio e troféu
Entrevistado na BBC.