Toda
semana eu jogo
Em
tudo quanto é sorteio
Bingo,
rifa e no bicho
Rinha
de galo e torneio,
Mas
nunca ganhei um prêmio
E
vivo no aperreio.
Já
vendi minha bicicleta,
Um
rádio que tinha ganhado,
Dois
canarinho do reino,
Outro
dia no mercado,
E
agora comecei
A
pedir dinheiro emprestado.
“Homem
deixe desse vício”
É
a boca de Maria,
Mas
um negócio me diz
Uma
hora chega meu dia.
A
sorte vem pro meu lado
E
eu ganho na loteria.
Já
sei o que vou fazer
Quando
essa hora chegar.
Botei
tudo num papel
Pr'eu
num me atrapalhar.
Acendo
primeiro uma vela
Me ajoelho e vou rezar.
“Valei-me
meu Padim Ciço,
Salve
nossa Senhora,
Obrigado
meu Senhor
Enfim
chegou minha hora,
Virei
rico, cabra importante
Mas
daqui não vou me embora”.
Logo
em posse do dinheiro
Compro
uma casa pra pai,
Mando
botar energia
Candieiro
nunca mais,
Compro
toda encanação
É
água e fogão a gaz.
Encho
a casa de armários
Sofá,
cama e televisão,
Mãe vai ficar tão contente,
E também os meus irmãos
Quando eu der os cinco lotes
Pra fazer a plantação.
Pra quem for meu conhecido,
Acabou-se a tristeza.
A fome, a falta d'agua
Doença, gastura e moleza,
Pois com Severino rico
É paz, saúde e beleza.
Água, nunca mais falta
Pois mando logo fazer,
Caçimba, açúde e barragem
De sede num vai morrer,
Pois vai ser tanta da água
Que da até pro lazer.
Pra ficar melhor ainda
Vou dizer minha ambição,
É trazer um braço do mar
Pr'aqui dentro do sertão
Pr'eu ver a cor que ele tem
E poder pescar de arpão.
Chamo um doutor entendido
De chuva e de trovoada,
Fazendo chover todo dia
Da aurora à madrugada,
Dando pra ver os clarão
Do corisco na estrada.
Depois que cair a chuva
Vai melhorar o calor,
Pra ficar melhor ainda
Compro uns ventilador,
Penduro um em cada poste
Pra ter brisa e não vapor.
E a partir desse dia
Num quero mais ver doente,
Pago é doutor de rico
Pra cuidar da minha gente,
E mando fazer as chapas
Pro povo que num tem dente.
A fome vai se acabar
Pois não vai faltar comida,
Carne, arroz e feijão
No lugar de barro e formiga,
Os menino tudo corado
Sem o bucho de lombriga.
No terreiro lá de casa
É todo dia um forró,
Com sete caixas de som
Vindas lá
de Caicó,
Que até moça coroa
Vai sair do caritó.
Depois de ajudar todo mundo
Tenho que cuidar de mim,
Faço a barba e o bigode
Aliso os cabelo ruim,
Fico todo perfumado
Boto o paleto de "lim".
Passo
lá em Zé ourives
Compro um par de aliança,
Pr'eu me casar com Maria
que amo desde criança,
E depois de 30 anos
Não perdeu as esperança.
Compro um sítio pra nós
Com piscina e com terraço
Pra estender duas redes
Descansar o espinhaço,
Chamegando com Maria
Porque ninguém é de aço.
Os bichos que eu tinha antes
Era um burro e um boi malhado,
Agora é vaca holandesa
Cavalo só premiado,
E no lugar da carroça
Vou ter é um carro importado.
E depois de tudo isso
Com o dinheiro que sobrou,
Coloco tudo no banco
E viro investidor,
Rendendo mais todo mês
O dobro do seu valor.
Enquanto esse dia não chega
Eu continuo a sonhar,
Pensando o que vou fazer
Quando essa hora chegar,
E quem tiver um palpite
Me diga que é pra eu jogar.